Saturday, April 9, 2011

Shalom/Salaam: Antes cedo do que tarde



Desde 1948 os palestinos vivem condenados a um estado de humilhação que parece perpétua. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo, e quase nada podem fazer sem permissão. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados como Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006. Parece que a democracia é produto de luxo do qual nem todos merecem desfrutar.

São filhos da impotência dos foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados na faixa, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas um dia e que hoje deixaram de ser. E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz política de ocupação de terras na Cisjordânia está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina, da qual já resta muito pouco. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa.

Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. A violência e as balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa, pois como se sabe, não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Em cada uma de suas investidas "defensivas", Israel vai devorando pedaços e mais pedaços da Palestina. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Quem deu a Israel o direito de negar direitos universalmente consagrados? De onde vem a impunidade com que operacionaliza a usurpação de terras palestinas para construção de assentamentos cada vez mais gulosos por mais terra? Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

Diante da tragédia da Palestina, a hipocrisia mundial se ilumina como sempre fez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade. E enquanto isso, os países árabes lavam as mãos, como sempre fizeram.

A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama alguma que outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caçada de judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti-semitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonoro, uma conta alheia.

Quando é que a ONU pretende se mover e transformar propostas inócuas, paliativas e de fachada em uma solução de paz progressiva e definitiva entre os dois povos? O mundo da inteligência precisa encontrar urgentemente o mundo da ação – e da conciliação. Quando é que o mundo da paz vai poder comemorar um acordo sério e definitivo no Oriente Médio e entender que as palavras “Shalom” e “Salaam” são realmente sinônimas de harmonia, convivência, civilidade e respeito? Quando é que um futuro de paz vai, efetivamente, chegar para os povos da Palestina e de Israel? Oxalá esse esperado futuro não esteja tão distante quanto parece estar, e possa chegar mais cedo do que tarde.

Por: Eduardo Galeano & Mauro Wainstock (Extratos de artigos)

Wednesday, April 6, 2011

Cisjordânia ocupada

Os bloqueios de estradas e “check-ins” disseminados por toda parte, os muros de separação, também chamados de “segurança”, as ocupações ilegais de propriedades particulares e as humilhações diariamente impostas aos palestinos fazem parte de um projeto. Seu objetivo é tornar-lhes a vida insuportável a fim de que deixem suas terras e partam. Uma situação que o ex-ministro do turismo de Ariel Sharon, Benny Elon, definiu como "transferência voluntária".
"A transferência não está sendo feita com momentos dramáticos, com ônibus e caminhões carregados de pessoas e transportando-as para outras terras", disse a ativista de direitos humanos Gadi Algazi ao diário Ha'aretz, “mas através de um contínuo estrangulamento na vida das pessoas que as impedem de chegar ao trabalho ou à escola, de receber serviços médicos ou de permitir a passagens de caminhões-pipa e ambulâncias, de intimidação permanente contra homens, mulheres e crianças, enfim uma realidade que leva os palestinos ao desespero e à perda de qualquer perspectiva de solução do conflito."
Esse plano caminha aceleradamente. O chamado "muro de segurança" já isolou 242.000 palestinos (dez por cento da população) em uma zona militar fechada entre a fronteira de Israel e o lado ocidental do muro. Outros doze por cento estão separados de suas terras por assentamentos ou estradas exclusivas para os colonos. Quando o muro de mais de 500 kilômetros estiver concluído, os palestinos terão acesso a apenas cerca de cinquenta e quatro por cento da Cisjordânia.
Enquanto o governo israelense alega que o muro é apenas uma medida de segurança, a ex-ministra da Justiça, Tzipi Livni, disse em uma conferência em Cesaréia que "não é preciso ser um gênio para ver que sua existência trará implicações para a futura fronteira que se sonha entre os dois Estados”.
Do lado palestino do muro, a rede de estradas e túneis que dão liberdade à passagem de 400 mil colonos judeus, efetivamente prendem três milhões de palestinos. Nenhum  palestino pode mais viajar da Cisjordânia para a Jordânia, pois as duas estradas que atravessam Jericó no sul, e Nablus e Tubas no norte, foram designadas exclusivamente para colonos. Estradas exclusivas de colonos são absolutamente vedadas aos palestinos.

Por outro lado, com a  aceleração de novas construções residenciais em terra palestina, o governo israelense continua implementando políticas de reassentamento de judeus nas colônias já existentes e em outros locais que pretende anexar futuramente. Um plano para dobrar o número de colonos no Vale do Jordão já foi anunciado, sob a infeliz alegação de que aquela região se trata de uma “zona de segurança e interesse nacional e da qual Israel não poderia abrir mão”. Um ato que levará à anexação de, no mínimo, cinquenta e oito por cento da Cisjordânia e, efetivamente, sua divisão ao meio.

A despeito dos esforços americanos para implementar um novo plano de paz na região, o governo israelense, apoiado na força bruta e sem pretensão a qualquer diálogo sério com os palestinos, vem aplicando, unilateralmente, seus projetos expansionistas com o objetivo de tornar impossível a criação do Estado Palestino na Cisjordânia e, como frisou o chefe negociador palestino, Saeb Erekat, “perpetuar a ocupação do território por tempo indeterminado”.

Essas medidas de punição coletiva à população palestina, de limpeza étnica e descarada usurpação de terras, se não forem revertidas, levarão, inevitavelmente, os palestinos à conclusão de que não há razão para otimismo, para alimentar esperanças ou para acreditar no discurso de ativistas de direitos humanos e de políticos da esquerda israelense, que continuam defendendo o diálogo como meio de solução para o conflito. "Se isso acontecer, ninguém poderá se surpreender com o retorno das intifadas, com fúria sem precedentes”.

Por: LauLimor

Tuesday, April 5, 2011

Mataram Juliano, o filho de Arna Mer-Khamis

Ele era ator e ativista da causa palestina e filho de Arna Mer-Khamis, ativista judia e de Saliba Khamis, um árabe israelense membro do partido comunista. Tinha fundado um teatro em Jenin, um campo de refugiados da Cisjordânia. Defendia o entendimento entre as duas partes em conflito e o trabalho social que desenvolvia com jovens e crianças palestinas tinha esse direcionamento. Foi morto ontem, na porta do mesmo teatro que fundara, com cinco tiros disparados por homens encapuzados, não se sabe de qual lado. Pacifistas do mundo inteiro, homens e mulheres adeptos do diálogo e da resistência pacífica como meio de resolução de conflitos, comovidos e perplexos, não conseguem entender quem poderia querer matar Juliano e por que.

Por: LauLimor