Sunday, December 9, 2012

Criação de dois Estados não garante paz duradoura





Israel não esperou muito para revelar sua primeira resposta ao reconhecimento esmagador pela Assembleia Geral da ONU da Palestina como Estado não membro, anunciando quase imediatamente sua intenção de dar andamento aos planos para construção de moradias para colonos judeus em E1, uma área da Cisjordânia ao leste de Jerusalém.

Apesar de ser chamada de modo enganador como “disputada” ou “controversa”, a construção de assentamentos em E1 é simplesmente uma violação da lei internacional tanto quanto a construção de assentamentos em outros pontos da Cisjordânia ou de Jerusalém Oriental. O que torna esse desenvolvimento significativo é a localização de E1, fechando a separação entre Jerusalém Oriental e o maior assentamento de Israel, Maale Adumin, mais ao leste.  

Essa separação é a última ligação para os palestinos entre o norte e o sul da Cisjordânia; ela também ocupa a ligação entre as comunidades palestinas de Ramallah, Belém e Jerusalém Oriental –que, além de ser o foco da vida cultural, religiosa, social e econômica palestina, também seria algum dia a capital da Palestina.

Ao prosseguir com os há muito ameaçados planos para desenvolvimento de E1, Israel quebrará a espinha da Cisjordânia e isolará a capital do sonhado Estado palestino do restante do país. Ao fazê-lo, ele exterminará de uma vez por todas a própria perspectiva desse Estado –e com ele, por definição, qualquer possibilidade restante de uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino.

Estranhamente, a Palestina reconhecida pela Organização das Nações Unidas é apenas uma abstração; aquela que os israelenses estão prestes a estrangular é muito mais real, na medida que afetará materialmente as vidas de centenas de milhares de palestinos de uma forma que o mero reconhecimento não afetará.

Por mais pesado que seja o golpe contra as aspirações palestinas, um preço político igualmente caro pelo plano E1 do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu será pago pelos israelenses. Pois ao eliminar a perspectiva da solução de dois Estados, Netanyahu também selará o destino de um Estado exclusivamente judaico.

Como políticos israelenses perspicazes (Ehud Olmert entre eles) há muito alertam, a manutenção de Israel como um Estado judaico exige, fundamentalmente, a perpetuação ao menos da ideia de um Estado palestino, mesmo que apenas como uma ficção adiada, mantida viva por negociações intermináveis.

Assim que a ficção de um Estado palestino separado é revelada como tendo tanta substância quanto o Mágico de Oz – o que o plano E1 praticamente garante – restará aos palestinos que ainda não o fizeram se dedicarem à única alternativa viável: uma solução de um só Estado, no qual a ideia de um Estado exclusivamente judaico e um exclusivamente palestino dará lugar àquela que era a alternativa preferível o tempo todo, um único Estado democrático e secular em toda a Palestina histórica que seria dividida por ambos os povos como cidadãos iguais.

Uma campanha por direitos e igualdade em um Estado único é um projeto no qual os palestinos poderão contar com apoio internacional formidável que já desenvolveram tanto na esfera diplomática quanto de base, incluindo um movimento para sanções e um boicote global que Israel já sentiu.

Para os palestinos, de qualquer modo, um só Estado é preferível a dois, pelo simples motivo de que nenhuma versão proposta da solução de dois Estados tratar de modo significativo dos direitos da minoria árabe-palestina que de fato vive no território no qual o Estado supostamente existiria.

A maioria dos palestinos vive ou no exílio, para o qual foram expulsos durante a criação de Israel em 1948, ou como cidadãos de segunda classe em Israel, onde enfrentam obstáculos formidáveis como não judeus em um Estado que reserva o espectro pleno de direitos apenas para os judeus.

Para os palestinos, o direito de voltar para casa e o direito de viver com dignidade e igualdade em sua própria terra não são menos importantes do que o direito de viver livre da ocupação militar. Um Estado separado trataria apenas deste último, mas nunca haveria uma paz justa e duradoura sem tratar de todos esses direitos, mesmo que signifique abrir mão da perspectiva de um Estado palestino independente.

O que deve ser acrescentado aqui é que se uma solução de um Estado oferece a última chave restante para uma paz justa e duradoura, os judeus israelenses pagarão um preço a curto prazo em troca de muitos ganhos a longo prazo. Como os palestinos, eles perderão o sonho e a perspectiva de um Estado exclusivamente deles. Mas – assim como os palestinos – o que eles ganharão em troca é o direito de viver em paz.

Por: Saree Makdisi – Herald Tribune


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